Tanta verdade junta mereceu publicação – take VII

(Carlos Marques, 18/04/2022)


Hoje vi na RT a reportagem na zona industrial de Ilich (Mariupol), onde se renderam os mais de 1000 ucranianos que lá estavam, ainda com algumas munições, mas já sem condições.
São combatentes que se tornaram POW (prisoners of war), todos tratados com dignidade, e vários feridos já assistidos.
O jornalista passou pelos Hummers militares e um soldado atrás dele lembrou-se de fazer um número à “emplastro” e dizer algo como: thank you Biden, for the Humvees.
Biden tem-se fartado de ouvir isto, já desde o Verão passado no Afeganistão.
O que interessa é que o oligarca que os produziu e vendeu, já lucrou o que tinha a lucrar. Só não podia era estar muito mais tempo à espera da guerra seguinte…

Vi também a ajuda humanitária distribuída pela Rússia aos civis ocupados.
Vi o jornalista de guerra da RT (de quem não tenho razões para desconfiar neste tipo de reportagens, pois já no Afeganistão era o primeiro a falar a verdade no local e a desmentir logo a propaganda dos EUA difundida pela “imprensa livre” sem qualquer verificação), a percorrer os buracos em que os últimos militares ucranianos se escondiam, onde alguns deixaram as fardas para trás para provavelmente tentarem passar escondidos num corredor humanitário. É por isso que a Rússia agora revista toda a gente à procura de sinais (como símbolos militares ou tatuagens nazis, já para não falar de algo que revele que são mercenários de outros países) antes de deixar passar.
O mais recente é um britânico, que também passou pela Síria. Diz que o Zelensly até prendeu um líder da oposição e agora queria trocá-lo por este britânico, mas não pelos seus próprios soldados ucranianos… Sem comentários.

Destes ucranianos cercados, só morreram os loucos que, perante a derrota certa, deram a vida em nome de uma última tentativa de furar o cerco, não em direção a Norte, mas em direção aos outros loucos encurralados na Azovstal. Isto em nome da liderança descrita no parágrafo atrás…

Os que se renderam já estão em segurança detidos pela Rússia cumprindo as regras de guerra, e nas zonas em que se renderam já parou a guerra. Naquela parte Sul de uma enorme Ucrânia, a guerra já só está numa zona industrial costeira.

Portanto, se a Rússia quisesse parar de perder tempo, e seguir o “bom exemplo” dos EUA/NATO, bastavam umas passagens de drones para terraplanar aqueles cerca de 2 mil militares.

Aliás, se fossem os EUA/NATO, até um casamento terraplanavam à bomba só para acertar num dos convidados… E quem (Assange) denunciou isto está preso. Mas não. Nesta madrugada a Rússia esteve a anunciar uma janela temporal para que, tal como na fábrica Ilich, o fim fosse uma rendição suficientemente pacífica para salvar vidas. Um “corredor humanitário” para os encurralados do exército inimigo!

Um exército que trata assim o inimigo, não é um exército que faz aquilo de que é acusado em Bucha! Do outro lado, de Kiev, veio apenas a repetição da ordem do costume: se é para perder, que seja até ao último homem… Este desrespeito pela vida humana é algo que só podia vir de quem convive tão bem com ultranacionalistas, com limpezas étnicas, e que ainda só conheceu a guerra pela TV, não viu um único míssil cair perto de si em Kiev, e ainda só fez a guerra através do Zoom.

Imaginem só um lunático destes, que recusou acordos de paz de Minsk, a dar o “primeiro passo” para destruir o resto do Donbass. Um passo dado pelos que passaram 8 anos a perseguir ucranianos russófonos, a fazer desaparecer gente, e a matar mais de 13 mil no tal “tempo de paz”. Se a Rússia estivesse à espera disso, quantas Bucha é que esses ukronazis iam fazer em Donetsk e Lugansk? E quantos segundos daria a “imprensa livre” do Ocidente a essa tragédia? Os mesmos que tem dado nesta semana aos bombardeamentos e assassinatos de Israel contra a Síria e contra a Palestina respetivamente: ZERO.

Assim, com tal manipulação/omissão, é fácil convencer os ocidentais de que não havia guerra na Ucrânia antes de 2022. Aliás, muitos dos próprios ucranianos foram de tal forma enganados que não têm noção disso no próprio país!

Faz lembrar os Portugueses que nunca repararam que viviam numa ditadura fascista, ou os Espanhóis que ainda hoje acham que as valas comuns cheias de republicanos e outros opositores são uma invenção da esquerda ou das pessoas das Autonomias.

A propaganda num regime autoritário é isto: é viver a mentira pensando que se vive a verdade, e acreditando que quem diz o contrário só pode ser um inimigo. Vejam-se exemplos atuais de excelsas VERDADES:

  • Não havia guerra no Donbass, e também não há guerra no Iémen, nem na Síria, nem na Líbia, nem no Mali, nem Apartheid em Israel/Palestina, nem fome no Afeganistão.
  • A NATO só se defende, os EUA só distribuem democracia, e a Europa compra petróleo a sauditas em nome da liberdade.
  • O Azov não é nazi pois aquilo é só um símbolo que parece o das SS e agora é bem-intencionado;
  •  mas Mélenchon é que é um perigo extremista, pois isso de distribuir riqueza é estalinismo.
  • O Euro é uma maravilha, e Portugal faliu por causa da meia dúzia de milhões que Sócrates recebeu do amigo.
  • Os offshores e os 0% de impostos pagos pelo Musk são coisa boa, mas o mal do Mundo é uma piscina na casa da Ana Gomes ou a Mortágua que foi paga pelo tempo que deu ao comentário na SIC.
  • A Ucrânia pode aderir à NATO, mas a Catalunha não pode sequer votar.
  • A expansão dos sistemas de mísseis da NATO não é uma ameaça, mas os telemóveis da Huawei são tão perigosos que a China inteira tem de sofrer sanções.
  • E Bucha é o que a TV disser que é: CNN mostrou, a Casa Branca comentou, está decidido!
  • A UE é tão insubstituível que temos de preparar os nossos jovens para ir à guerra em seu nome, e já sem nacionalidade no cartão do cidadão.
  • A existência do Chega justifica violar a Constituição, e o pacifismo do PCP justifica a sua ilegalização.

E quem disser o contrário, fizer críticas a alguma destas VERDADES INQUESTIONÁVEIS, ou se atrever a fazer perguntas, é putinista, é populista, é a favor da guerra, não tem pena das pessoas branquinhas filmadas a chorar, e devia ser censurado.

E pensava eu, em 2017, que o pior que ia escrever na vida era a equação: Macron 2017 = Le Pen 2022. Não! Há uma equação bem pior a ganhar corpo: Orwell 1984 = Ocidente 2022
E vamos ver se não se concretiza uma feita por alguns eleitores americanos ainda em 2015:
Hillary 2016 (Biden 2020) = Terceira Guerra Mundial.


Sobre a rendição de soldados ucranianos em Mariupol, ver vídeo abaixo.



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10 pensamentos sobre “Tanta verdade junta mereceu publicação – take VII

  1. Obrigado pelo destaque.
    O vídeo foi um excelente complemento.

    E ao ver aquela destruição de áreas civis (que também é mostrada em canais russos) e a rendição dos ucranianos, após a mais que anunciada derrota, eu pergunto: é decente a liderança de um país que em vez de evitar a guerra, provoca-a, em vez de poupar zonas urbanas, esconde a artilharia e o exército no meio delas, e em vez de se render em tempo útil, exige aos homens (sejam os militares mais decentes, sejam os Ukronazis de Azov e outros Banderistas) que se sacrifiquem até ao último naco de carne para canhão?

    Ao perguntar isto, lembro a guerra de há 2 anos e logo penso que está a ser uma grande lição para os Arménios que protestaram contra a própria liderança, revoltados por se ter assinado um acordo de paz/rendição. Esse acordo foi aceite com muitas cedências territoriais, após serem invadidos pelo Azerbaijão (com armas da NATO) e perderem o território de Nagorno-Kharabak e arredores.

    Mas foi assinado antes que a derrota evidente aumentasse inutilmente o número de vítimas ou levasse a guerra para mais cidades.
    Ao verem agora o que acontece a uma Ucrânia liderada por um lunático, acho que a maioria dos Arménios já se arrependeu de ter feito tais protestos em nome da continuação da guerra.
    É que morrer não é resistência, e mandar morrer não é coragem. É a derrota final. E fazer a paz com o inimigo não é traição. É coragem.

    E poupem-me, os que comparam a minha posição à de Chamberlain. Até porque nem Putin nem ninguém é comparável a Hitler. E Zelensky não chega sequer a uma unha encravada dos pés de Churchil, quanto mais aos calcanhares.

    Só é pena que tal lição não seja aprendida pelos Europeus que continuam teimosamente a apoiar a indigna posição de Borrel e companhia: negociar a paz é “traição”, e só a guerra é “solução”. Mas lá está, é fácil ser belicista quando a única coisa que se faz é enviar armas para longe, e mandar os outros morrer…

    É esta mesma gente que vai defender os Europeus dando ordens aos nossos filhos e netos para darem a vida no planeadonexército europeu em defesa da UE?
    Numa UE em que as decisões são tomadas por não-eleitos, e num futuro próximo (se Ucrânia aderir) por uma maioria esmagadora de Direita radical, a pender para o lado de Duda e companhia (que propuseram a fascista golpista Boliviana para um Sakharov!), e onde o “centro” será ocupado pelo PPE (na linha do PSD Passista e do defunto CDS)?

    E quantos mais canais e opiniões é que vão ter de censurar para convencer a maioria a apoiar tal alarvidade?
    E quão mais estreito e esmagador e anti-pluralista (aka anti-democrático) terá de ficar o “pensamento” único imposto pela censura moderna a que se dá o nome de “critério editorial” de directores de informação que, em vez de fazer jornalismo, só fazem obediência aos seus CEO e accionistas do grande capital?

    Como dizia um ex-preso político Chileno num comentário sobre o período de propaganda pré-golpe Fascista/NeoLiberal/CIA de 1973, não foi o Chile pós-Pinochetismo que se aproximou da Europa, mas sim a Europa que se aproxima do Chile Pinochetista (ou pelo menos daquela fase de/propaganda pré-golpe). Lá chamava-se “ditador” a um Allende que queria matar a fome dos mais pobres, cá chama-se “extremista” aos Mélenchons. Lá o golpe de Pinochet era “em nome da democracia”, e cá o golpe na Ucrânia também.
    Cá o Kosovo é legal, lá a Crimeia foi “anexada”.
    Se for em nome dos mercados do Ocidente e da NATO, é “liberdade”, mesmo se morrerem milhões. Se for no sentido oposto, é “genocídio”, mesmo que o número de mortos calculado pela ONU ande só em torno dos 2 mil.

    Estamos entregues à bicharada! Mas esse nem é o maior problema. O problema é que a maioria, vítima da propaganda, acha que a bicharada é sua amiga e bem intencionada. Alguns até acham que vamos comprar mais gás aos EUA em nome da paz, ou mais petróleo à Arábia Saudita em nome da democracia. A continuar assim, qualquer dia até nos tentam convencer que vamos passar a totalidade da factura das sanções (preços da energia e inflação) aos contribuintes europeus, através de um corte salarial real maior que no tempo da troika, e que isso será feito a pensar no nosso bem…

    Ou que passar o gasto na defesa (aka compras à oligarquia do Complexo Militar Industrial) de 1.6% para 2% do PIB é em nome da nossa segurança…
    Isto após uma crise orçamental inventada em nome de não se gastar uma única décima a mais com o SNS.
    E esses 0.4% (800 milhões por ano, ou um orçamento do Manchester City) do nosso PIB dão para quê? Mais uma negociata com um velho submarino a meio caminho da sucata? Mais uma carrada de generais sentados? A reabertura das fábricas da UMM para fabricar os “Humvee” tugas com tração às 3 rodas (que é para cortar as emissões CO2 em 25%)?
    Agora é que vai ser! A próxima Jugoslávia não perde pela demora! Às armas, às armas, pela NATO lutar. Às armas, às armas, contra o Donbass bombardear, bombardear!

    PS: as inscriçõs na Mocidade Europeia abrem a qualquer momento. Entretanto, comece já a dar o melhor à sua futura carne para canhão, com fraldas de fósforo branco super absorventes, uma parceria Dodot e Lockeed Martin.
    SLAVIA BRUXELAINI

  2. Você, autor deste texto, está já na lista de Putin para ser condecorado. Com a medalha da ignomínia e da desfaçatez moral. Terá é de lhe suportar o cheiro nauseabundo, porque acredite que tresanda a valer.

  3. Pois é, tia Odete, mas não consegue Vossa Excelência calá-lo, azar dos Távoras! Não se pode exterminá-lo? Não se esqueça é de nos informar sobre a data da sua condecoração por Sua Excremência Reverendíssima Joseph Robinette Biden von Alzheimer, não perderia tão ditosa e comovente cerimónia por nada.

  4. “São combatentes que se tornaram POW (prisoners of war), todos tratados com dignidade, e vários feridos já assistidos.” Esta frase é reveladora de todo o programa deste senhor. Deve querer fazer dos outros palhaços. Pedia-se vergonha, se valesse a pena.

  5. Aos que condenam a Rússia por invadir a Ucrânia gostava de ver a reacção deles se à porta de casa fossem pôr um monte de esterco e todos os dias lá fossem depositar os detritos da noite anterior.
    Certamente que lhes batia palmas e lhes ficava obrigado.
    Deixem-se de hipocrisias.

  6. Concordo com o Sr. Rui Santos. E o autor não se dá conta da figura de maluquinho da aldeia que recorrentemente tem feito, em uníssono com mais dois ou três parceiros. Creio que não vale a pena gastar palavras com criaturas que parecem destituídas de senso e memória. Mas, a propósito de memória, só lhes lembro o seguinte. Na guerra do Vietname, os pacifistas pediam aos americanos para se irem embora, não para os vietnamistas se renderem.

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